segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Empreender: talento nato ou aprendizado?

Confira a íntegra da entrevista que realizamos com José Carlos Dornelas – principal autoridade em empreendedorismo no Brasil – para a revista Administradores nº 8

 

Com um mercado em pleno desenvolvimento e um número cada vez maior de oportunidades sendo abertas, o cenário brasileiro nunca foi tão favorável ao empreendedorismo. Mas será que essa uma alternativa viável para qualquer um? Afinal, é possível aprender a empreender?

No Brasil, poucas pessoas podem falar sobre esse assunto com tanta propriedade quanto José Carlos Dornelas, autor de alguns dos mais importantes livros da área no país. Conversamos com ele para a matéria de capa da revista Administradores nº 8, "Empreendedorismo: que negócio é esse", um grande dossiê do qual participaram também empreendedores de várias partes do Brasil, entre os quais Alexandre Tadeu, fundador da Cacau Show.

Confira abaixo a íntegra da entrevista com José Carlos Dornelas:

Administradores - Empreendedorismo: aprendizado, vocação ou as duas coisas?

José Carlos Dornelas - Apesar de serem várias as definições sobre empreendedorismo, podemos notar que alguns aspectos sobre o empreendedor estão sempre presentes, como iniciativa e paixão pelo negócio, utilização criativa dos recursos disponíveis, aceitação de riscos e possibilidade de fracassar etc. Assim, podemos definir o empreendedor de maneira abrangente e ao mesmo tempo objetiva como aquele que faz acontecer, que se antecipa aos fatos e tem uma visão futura da organização. O discurso de que o empreendedorismo nasce com o indivíduo vem mudando cada vez mais. Acredita-se que o processo empreendedor possa ser ensinado e entendido por qualquer pessoa e que o sucesso é decorrente de uma gama fatores internos e externos ao negócio, do perfil do empreendedor e de como ele administra as adversidades encontradas no dia a dia.

O Brasil tem registrado uma das maiores taxas empreendedoras do mundo, o que, à primeira vista, pode ser entendido como bastante positivo. Entretanto, analisando a nossa realidade, sabemos que grande parte dos nossos empreendedores estão ali por necessidade, não por iniciativa, o que resulta em níveis de capacitação para a administração empresarial muito baixos. Qual o impacto disso para o país e como podemos profissionalizar esse grupo?

A educação empreendedora deve ser difundida pelo país, não só no nível universitário, mas em todos os níveis. Não só através de cursos formais, mas em programas específicos para empreendedores. Com conhecimento de gestão, os empreendedores entenderão, por conta própria, que empreender apenas por necessidade não os levará a um futuro sustentável. Não é fácil, mas deve ser uma bandeira que o país precisa defender.

No Brasil, ainda há um índice alto de falências entre pequenos negócios. Em sua opinião, por que isso acontece e quais os caminhos para solucionar o problema?

Além da dificuldade de acesso a crédito e menor capacidade de competitividade, a falta de preparo e a carência de conhecimentos gerenciais – onde se inclui a capacidade de planejar – são pontos cruciais que impedem o empreendedor fazer com que seu negócio cresça e se desenvolva. A questão do acesso ao crédito é um problema macro do país e não depende apenas do empreendedor isoladamente para ser resolvido. Por outro lado, questões gerenciais não só dependem dos próprios empreendedores, como deveriam ser priorizadas pelos mesmos. Estatísticas que tratam a dinâmica dos negócios no país são frequentes. Estes estudos permitem que se tomem ações e se criem políticas públicas para auxiliar o desenvolvimento do empreendedorismo nacional. Os que pretendem criar um novo negócio deveriam tomar conhecimento destes relatórios e de suas recomendações, o que hoje é algo fácil de se fazer acessando a internet. Com isso poderão aumentar suas chances de sucesso.

Até que ponto a burocracia e a alta carga tributária prejudicam o empreendedorismo no Brasil?

O custo Brasil é de longe um dos grandes entraves à competitividade das empresas brasileiras. Mesmo assim, muitos empreendedores conseguem se diferenciar no mercado através da inovação, criando vantagem competitiva em relação à concorrência e com isso podendo praticar margens diferenciadas. Como todos os empreendedores sofrem as altas cargas tributárias/fiscais/trabalhistas, devem ser buscadas soluções na inovação que permitam a diferenciação no mercado.

Ações como a Lei Geral das MPEs, o programa Microempreendedor Individual e outras iniciativas têm trabalhado no sentido de melhorar a administração dos pequenos negócios e trazê-los para a formalidade. Em outra frente, o Sebrae tem atuado muito bem no sentido da capacitar e orientar os novos empreendedores. Você acredita que, finalmente, estamos caminhando para um novo cenário, com negócios mais modernos e empreendedores mais profissionalizados?

Raros foram os momentos em que os que pensam em empreender no Brasil tiveram condições tão interessantes para colocar suas ideias em prática. Mas é preciso muita atenção, pois janelas de oportunidades não ficam abertas por muito tempo. Ser a "bola da vez" não significa que o Brasil entrou em definitivo para o grupo das grandes economias mais propícias ao empreendedorismo de longo prazo. Ainda faltam políticas públicas duradouras dirigidas à consolidação do empreendedorismo, como alternativa à falta de emprego e visando respaldar todo esse movimento proveniente da iniciativa privada e de entidades não governamentais que já fazem sua parte.

Qual a importância do plano de negócios?

Um plano de negócio é um guia, um mapa, um planejamento da empresa que vai ajudá-lo a atingir o seu objetivo. O empreendedor deve pensar em questões estratégicas, operacionais e de marketing. Com isso se espera que a empresa cresça e que o plano de negócios funcione como uma bússola, um instrumento de gestão.

Há, entretanto, quem ache que o plano de negócios, de certa forma, "engessa" o empreendedor. O que você pensa sobre isso?

O plano de negócios não é uma ferramenta estática. Pelo contrário, é uma ferramenta extremamente dinâmica. Com ele é possível identificar os riscos e propor planos para minimizá-los e até mesmo evitá-los, identificar seus pontos fortes e fracos em relação a concorrência e o ambiente de negócio em que você atua, conhecer seu mercado e definir estratégias de marketing para seus produtos e serviços, analisar o desempenho financeiro de seu negócio, avaliar investimentos, retorno sobre o capital investido... Enfim, você terá um poderoso guia que norteará todas as ações de sua empresa, mas que pode e deve ser atualizado e utilizado periodicamente.

Quem começa um negócio, inevitavelmente, sujeita-se a riscos. Evitá-los totalmente pode ser um entrave na hora de apostar em coisas novas que podem alavancar o empreendimento. Por outro lado, correr riscos desnecessários ou mal calculados pode gerar grandes prejuízos. Afinal, qual a melhor maneira de identificar os limites mínimos e máximos dos riscos que se pode e deve correr?

Os riscos são inevitáveis. Por isso, calculá-los adequadamente é fundamental para quem quer prosperar. É interessante criar um mapa do que pode falhar e dos impactos que o empreendimento pode sofrer caso isso ocorra. As chances de diluir esses riscos são muito maiores se você tiver esse mapa em seu planejamento e tomar as medidas preventivas. É interessante conhecer as variáveis macroeconômicas que mais influenciam seu negócio, definir as premissas para essas variáveis ao longo do tempo, determinar cenários otimistas, prováveis e pessimistas em seu planejamento etc.

Fonte: http://www.administradores.com.br/informe-se/entrevistas/negocios-economia/empreender-talento-nato-ou-aprendizado/56/

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