A relação entre preço e pirataria é sempre um tema polêmico. A questão certamente é muito complexa. Os piratas não pagam impostos e estão, em geral, associados a crimes como contrabando. Mas, controvérsias à parte, o mercado dos clones pode trazer percepções sobre a influência da revolução digital nos modelos de negócios. Em primeiro lugar, podemos intuir que existe um público consumidor longe da alça de mira das empresas. Cópias do iPhone, por exemplo, anunciados em praticamente todos os shoppings eletrônicos de importados, custam em média R$ 400. É um valor considerável para um produto que emula toscamente o visual do celular da Apple e nada mais. Mas, de resto, são aparelhos com funções interessantes para a grande massa, como TV, mp3 player, câmera, rádio e até wi fi. Ou seja, tem gente à procura de mini centrais de entretenimento e não de computadores de bolso.
Em outra frente, DVDs ilegais custam de R$ 5 a R$ 10 nos camelôs. É um valor muito próximo ao que se paga em locadoras de vídeo. Isso mostra que talvez houvesse um mercado para venda de cópias baratas e legalizadas de DVD em lugar do aluguel - os clientes, em geral, assistem à produção apenas uma vez, então por que não levar pra casa o filme sem a obrigação de devolver? Além disso, como o usuário sempre vai encontrar todos os lançamentos desejados, consumiria mais a cada visita. Muitos poderiam argumentar que a profusão de cópias canibalizaria o mercado. No entanto, o sistema atual também apresenta a mesma vulnerabilidade: o que impede os consumidores de replicar os discos alugados ou simplesmente baixá-los via internet? As locadoras poderiam se tornar centros de distribuição de títulos. Dinheiro extra, por sua vez, poderia vir de diferenciais, como a venda de caixas e embalagens customizadas ou de conteúdo exclusivo, como revistas, pôsteres (imagine um DVD da saga Crepúsculo com pôsteres colecionáveis dos astros), álbuns e assim por diante.
Os conteúdos digitais se tornaram alvos preferidos da pirataria porque existe demanda reprimida somada a uma grande facilidade de se produzir cópias baratas com equipamentos caseiros. Mas, se há gente interessada em adquirir determinados produtos a preços mais acessíveis, qualquer solução que torne possível essa fórmula rouba público dos piratas. Um exemplo mundialmente conhecido é o iTunes, da Apple, que conseguiu criar um bilionário mercado de venda de músicas. A loja virtual traz um modelo de negócios que contempla todas as necessidades dos usuários: preço baixo, um catálogo que satisfaz praticamente todos os gostos, facilidade de comprar, conveniência e legalidade.
Os e-books são outro caso interessante. Talvez não consigam criar novos leitores, mas certamente estimulam os aficionados a comprar mais obras, seja pelo preço ou pela comodidade de adquiri-los. Entre os programas e games, os modelos de software como serviço (Saas) e de cloud computing podem se revelar armas eficientes contra os ilegais em um futuro próximo ao oferecer opções de uso sob demanda em lugar de aquisição de licenças. Em resumo, o consumidor não é uma entidade genérica. A convergência de interesses específicos pode fazê-los se comportar em bando, mas isso não os torna um grupo. Além disso, suas necessidades são continuamente moldadas pelo tempo.
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